Jani Gabriel
Desde muito cedo que começaste no mundo na moda e sabemos que por vezes nem sempre é fácil. Contudo, quais eram os teus maiores desafios?
É verdade que desde muito cedo que comecei no mundo da moda, tinha apenas 14 anos quando a moda surgiu na minha vida por mero acaso, não era algo que tinha idealizado. Alias uma miúda de 14 anos nunca tem muito certo na cabeça o que é que quer seguir e o que quer fazer para o futuro e esta “brincadeira” tornou-se mais sério.
O mundo da moda também é um trabalho ao contrário do que muitas pessoas possam pensar. Não é assim tão fácil fazer uma passarela para frente e para trás, pousar para as câmaras e fazer uma sessão fotográfica durante várias horas. Existe bastante competição e no meu caso não foi só em Portugal.
Comecei em Portugal nos concursos da Elite Model Look que me permitiram viajar e ficar logo agenciada nas agências Elite em todo o mundo. Automaticamente tive contacto com a moda a nível internacional e é muito mais difícil. Não só como há muita competição e isso era um grande desafio, existem miúdas lindíssimas de todos os cantos do mundo; mas porque para mim estar fora do meu país, estar longe da minha família, (volto a repetir uma miúda de 14/15 anos) que de repente larga a sua rotina na escola, os seus amigos que ia lanchar depois da escola, as coisas básicas que fazemos na nossa pré adolescência, ficou tudo em standby e tive de me desenrascar em cidades gigantes como Paris, Nova Iorque e fazer às vezes 15 castings por dia.
Tínhamos vários desafios e dificuldades. Na altura não existiam telemóveis como os de hoje em dia, que púnhamos gps e que te levam a todo o lado ou chamas um uber. Fazíamos as cidades de uma ponta à outra com os mapas feitos à mão na noite anterior e batíamos à porta dos castings e por 10/15 minutos de atraso já não nos abriam a porta. Os nãos que se ouvia quando chegávamos à agência no final do dia e nos diziam que não servíamos para aquele trabalho. Toda a competição e da maldade que às vezes também há entre modelos quando nos roubavam os castings. Nós recebíamos os castings no dia anterior através de fax e quem estivesse no apartamento ( havia à vezes modelos um bocadinho mázinhas), roubavam nos o fax para não irmos aquele casting para não ser mais uma a competir.
Apesar de tudo isto, se escolhesse a maior dificuldade, é sem dúvida estar longe do meu país, da minha família e não ter aquele colo no final do dia em casa e estar sempre a saltitar de casa em casa.
Há algum trabalho ao longo da tua carreira que tenhas gostado mais e que tenha um lugar especial?
Esta pergunta para mim é bastante difícil de responder e escolher apenas um. Em cada trabalho aprendi alguma coisa, cada trabalho tem a sua história e foram todos diferentes e tento levar para mim o melhor. Por muito que faça a mesma campanha, catalogo ou o mesmo desfile com a mesma equipa , as coisas acabam sempre por ter uma historia diferente. Com eles aprendi a ver o que fiz menos bem e que podia melhorar para a próxima, outros permitiram-me arranjar trabalhos mais importantes, pelo que não consigo distinguir um favorito.
MAS, tentando responder à tua pergunta, tenho um orgulho enorme e foi um privilegio ter trabalhado, na minha era, com todos os estilistas portugueses em vários desfiles, campanhas e editoriais de moda e revistas em Portugal. Mas também senti que conquistei um mercado fora quando fiz alta costura em Paris, a fashion week de nova Iorque e produções de moda para revistas, destacando duas incríveis não só pela oportunidade mas também pelos dias de trabalho e por toda a equipa, que foi quando fiz a Madame Figaro em Saint Tropez. Foram 5 dias maravilhosos que me fez dar um salto na carreira e foi bastante positivo por ser uma revista muito conceituada em França. O outro foi fazer a Vogue Espanha que foi uma experiência incrível, claro com o peso que a revista Vogue tem e saborear esse momento foi muito positivo. É difícil escolher favoritos mas estes dois sem duvida têm muita historia para contar.
Escreve-se sobre ti, mas quem escreve não te conhece. Há alguma coisa que gostavas de dizer? Como é que lidas com os comentários negativos?
Escrever sobre mim é muito fácil, não para mim mas para quem escreve. As pessoas baseiam-se muito naquilo que sabem pouco ou o que acham que sabem. É muito “fácil” falar daquilo que não se sabe a 100% e sinto que é isso que tem acontecido ultimamente.
Nós somos muito mais do que uma imagem que está na montra, mas as pessoas apenas se preocupam com o lado mais fútil ou com o lado de fácil acesso da pessoa que têm de falar.
Há muitas coisas que as pessoas não sabem sobre mim, só os meus sabem. Claro que todos nós temos o nosso lado mais intimo e que continue sempre assim porque gosto de reservar a minha vida privada.
Contudo, não permito a mim mesma tolerar quando falam dessa mesma vida privada sem saberem realmente a verdade e isso incomoda-me bastante. Deixa-me MUITO desconfortável e sinto-me injustiçada por falarem sem algum fundamento da verdade. Fico incrédula com várias coisas que leio e aquele sentimento de “isto é injusto porque não é verdade, eu não sou assim” e não há muito que possa fazer. Sei também por estes motivos, que não estou numa posição que possa mostrar tudo pois quando damos um bocadinho de mais depois também abusam nessa confiança.
Os comentários negativos incomodam-me sim quando não são reais, e nesta profissão infelizmente estamos mais expostas a comentários que invadem a praça pública. As pessoas vão ler um site ou uma revista, e têm uma ideia minha de acordo com aquela noticia superficial que leram e isso incomoda-me porque não conhecem a verdadeira Jani. Por vezes não existe os mínimos e o respeito pessoal só para venderem e na realidade aquele ser humano é muito mais do que estão a escrever uma coisa que nem sempre é verdade.
Eu não falo muito de mim, mas deste lado há uma miúda que continua a ter os seus sonhos, que é muito mais daquilo que aparece na televisão, muito mais do que uma relação amorosa que é discutida na praça publica, que não tem assim tanto interesse mas parece que somos resumidos por essas noticias cor de rosa. Tenho muitas ambições de vida, tenho mais vida para além do social e da figura publica.
Quando o botão da câmara se liga, não se consegue ver a Jani genuína mas com o passar do tempo e da idade gostava de mostrar mais esse lado pessoal e genuíno, se o permitirem sem juízos de valor, partilhando as coisas que também tenho de bom e que ( dizendo com vergonha) não se iam arrepender de conhecer!
Quais são as tuas prioridades pessoais neste momento?
Estabilidade.
Não só a estabilidade nas minhas rotinas, o lado mais físico e materialista, mas sobretudo, estabilidade emocional. É o que estou a procurar neste momento, estabilidade emocional. Se nós estivermos bem connosco e estarmos estáveis emocionalmente tudo o resto flui.
Durante um certo período eu esqueci-me um bocadinho de mim e apanhava tudo o que estava à minha volta como se estivesse dentro de um jogo do super Mário. Todas as estrelinhas que apareciam eu saltava e apanhava e esquecia-me de mim. Não vejo isso como um lado negativo mas agora sinto a necessidade de parar para olhar mais para mim e não tanto para o que estava a minha volta e para os outros. Eu sou uma pessoa que pensa muito mais em dar do que receber, e às vezes é importante sabermos que também existimos e de nos mimar, seja em coisas do dia a dia mas também com a nossa saúde mental.
Neste momento, a saúde mental é o meu foco para conseguir abraçar tudo o que aparecer à minha volta com tranquilidade e força
A área de psicologia ainda está na tua mente para seguires?
Quando estava na faculdade imaginava-me a trabalhar no ramo da psicologia mais hospitalar e foi por isso que fiz o mestrado em neuropsicologia. Durante o mestrado surgiu a televisão e ao mesmo tempo estava a fazer um curso de televisão. Nesse momento apareceu o meu primeiro projeto em televisão o “the voice”e aí tive de colocar os dois na balança. O curso estaria sempre ali quando eu quisesse regressar e a oportunidade do meu primeiro projeto em televisão era um momento único que tinha de agarrar.
O meu interior ainda diz que eu talvez ainda vá ter contacto com a psicologia, mas neste momento se é esse o que eu preciso e se é esse o caminho, não sinto que o seja! Foi um momento muito bonito da minha vida, e que gostava de ter terminado, principalmente porque a área de neuro fascina-me muito, mas por enquanto vai continuar em pausa.
Há algum “sonho” que gostarias de realizar?
Sim, ainda tenho vários sonhos por realizar. Desde de coisas mais materialistas a viagens, mas também o sonho de uma vida. Eu sou muito caseira, de família e tenho o sonho de ter o meu lar, com uma pessoa especial ao meu lado, com filhos e ter uma família grande ( se possível). Tenho o sonho de ter a sensação de casa cheia com carinho e conforto. Quero sentir que conquistei isso na minha vida e o meu objetivo é ter uma vida estável emocionalmente como disse anteriormente. Ter filhos é um assunto que ainda me emociona a falar pois é algo que quero bastante.
Mas falando de um sonho mais fácil de realizar, queria muito viajar até à Asia.. Borabora!!
Já passas-te por algum momento mais frágil na tua vida que gostasses de partilhar? Como é que ultrapassaste esse momento?
Olhando para a minha vida no geral, sinto que tive um caminho afortunado. Claro que já tive momentos mais frágeis e algumas perdas como toda as pessoas, mas graças ao caminho que fui conquistando posso dizer que foi muito positivo.
Pegando num titulo de revista que escreveram sobre mim “ Jani tem um vida sem sorte”. Não se pode resumir uma dificuldade que uma pessoa está a passar num determinado momento para definir uma vida inteira sem sorte, isso não faz qualquer sentido.
Porém a fase mais frágil é esta que estou a passar neste momento. O final do ano de 2022 eu defino como a fase mais instável e frágil pela qual eu passei nos últimos tempos. Uma fase muito difícil a nível pessoal e comecei a perceber que alguma coisa tinha de mudar. Algumas partes de mim começaram a desmoronar e tive de pegar na minha “cola”ou pedir emprestada a alguém. Quero dizer que às vezes não conseguimos carregar com o mundo sozinhos e temos de pedir ajuda sem vergonha. Não é vergonha dizermos que não estamos bem e em pedir ajuda. É okay não estar okay.
Tudo é um processo e temos de confiar no tempo e também quem está à nossa volta que nos pode ajudar. Sobretudo temos de confiar em nós próprios e saber que é uma fase que vai passar e que não nos podemos entregar a isso.
O que estiver ao nosso alcance e o que tivermos nesse momento temos de fazer alguma coisa. Nesta fase é o que estou a fazer. Estou a vê-la de outra maneira e a cima de tudo perceber com o que eu tenho o que posso aprender a fazer coisas novas para se multiplicarem e ajudar a sair desta fase frágil.
Sentes-te feliz quando...
Sei que de alguma maneira consigo fazer feliz as pessoas que estão ao meu lado. Com um pequeno ou grande gesto meu fez alguém feliz. E esse é maior super poder do mundo. Saber que com um livro, com uma palavra, uma atitude tornaste o outro feliz.
Também me sinto feliz quando tenho uma mesa cheia com os meus amigos e ficamos a gargalhada até madrugada.
Quando estou nervosa a fazer um projeto em televisão ou um direto que é uma responsabilidade maior e quando termina e ouves “ boa equipa” e o trabalho correu bem, aí também é uma sensação de felicidade e missão cumprida!
[Jani Gabriel is wearing ANGIE TOP & FRANCIS PANTS]